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Bahia, 21 de novembro de 2024
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O ataque a faca em uma escola estadual de São Paulo que deixou uma professora morta e mais quatro pessoas feridas, no último dia 27, jogou luz sobre a violência nas salas de aula do país, que tem histórico de índices elevados de agressão contra docentes. O agressor era um aluno de 13 anos do oitavo ano na escola. O vídeo acima mostra o momento em que ele foi desarmado por duas professoras. Há anos, pesquisas têm indicado a alta incidência de casos de agressão, colocando o Brasil no topo da violência escolar. Levantamento global da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) coloca o país entre os de índices mais altos do mundo no ranking das agressões contra professores – e que têm se mantido estável nos últimos anos. Estudo divulgado em 2019 apontou que as escolas brasileiras são ambiente mais propício ao bullying e à intimidação do que a média internacional. Foram entrevistados 250 mil professores e líderes escolares de 48 países ou regiões. Ainda segundo o estudo, 28% dos diretores escolares brasileiros relataram ter testemunhado situações de intimidação ou bullying entre alunos, o dobro da média da OCDE. Semanalmente, 10% das escolas brasileiras pesquisadas registram episódios de intimidação ou abuso verbal contra educadores, segundo eles próprios, com “potenciais consequências para o bem-estar, níveis de estresse e permanência deles na profissão”, diz a pesquisa. A média internacional é de 3%. A OCDE não analisou os motivos por trás desses índices, mas apontou que o bullying e a agressividade acabaram sendo “normalizados” e minimizados, com impactos negativos sobre o aprendizado. Em 2017, estudo semelhante da OCDE mostrou que 12,5% dos professores ouvidos no Brasil disseram ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana. Era o índice mais alto entre os 34 países pesquisados – a média entre eles é de 3,4%. Na rede estadual paulista, o Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp) divulga com frequência estudos sobre o ambiente escolar. A pesquisa mais recente, de 2019, apontou que 54% dos professores já tinha pessoalmente sofrido algum tipo de violência. Em 2017, eram 51% e, três anos antes, 44%. Entre elas, as mais frequentes eram agressão verbal (48%), assédio moral (20%), bullying (16%), discriminação (15%), furto/roubo (8%), agressão física (5%), e roubo ou assalto à mão armada (2%). A pesquisa ainda mostra que 37% dos estudantes relataram ter sido vítimas de agressão. Em 2017, foram 39% e, em 2014, 28%; bullying (22%), agressão verbal (17%), agressão física (7%), discriminação (6%), furto/roubo (4%), assédio moral (4%), e roubo ou assalto à mão armada (2%). O ataque na escola estadual de São Paulo teria sido motivado por uma briga entre alunos dias atrás que foi apartada pela professora que morreu esfaqueada. Segundo o relato de um estudante, o agressor, há alguns dias, xingou um colega de “preto” e “macaco”, o que gerou uma briga entre eles. A professora Elisabete Tenreiro, de 71 anos, foi a responsável por separá-los. O agressor, então, a ameaçou de vingança. Para a pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Betina Barros, ataques como o desta segunda-feira em São Paulo não eram comuns no Brasil e passaram a acontecer com mais frequência a partir de 2018. Na avalição dela, isso é resultado de diversos fatores que se tornaram mais presentes neste período: Isolamento social: durante a pandemia, os estudantes tiveram que ficar em casa, convivendo apenas com a família e dependendo da tecnologia para interações sociais. Exposição à violência: nos espaços familiares, algumas crianças e adolescentes estiveram expostos a violência e maus-tratos. Tecnologia: o acesso à internet sem mediação de um responsável tornou mais fácil o consumo de fóruns da internet, muitos na deep web, que disseminam ideias e conteúdos violentos. “Não à toa, muitos grupos racistas, conservadores e neonazistas se proliferam nestes ambientes”, explica a especialista. No mesmo período, boa parte das relações estremeceram diante da polarização sanitária, social e política no país, o que pode ter servido como combustível para ideias mais extremistas. Tudo isso pode ter influenciado o cenário atual em que os casos de violência no ambiente escolar acontecem com uma recorrência cada vez maior. A especialista avalia que um dos caminhos que podem levar à solução o problema é interseccional e deve ter trilhado por todos envolvidos na proteção da criança e do adolescente. De acordo com ela, devem ser criados mecanismos objetivos de controle destas situações que permitam identificar onde os casos de ataque estão ocorrendo e por que ocorrem. Além disso, o bullying deve ser combatido por todos. “Precisamos entender que qualquer tipo de bullying no ambiente escolar não é aceitável. Assim como estamos entendendo que violência contra a mulher não pode ser ignorada, a violência sofrida pelas crianças não é menor e também não deve ser normalizada”, defende Betina.
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